segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Vendaval

Não era dia costumeiro como tantos. O clima parecia-lhe favorável, depois de estações que passaram desapercebidas, diante do opaco interno. A angústia cobria-lhe os olhos, e fazia parecer, cada dia, composto por intermináveis instantes-de dor. Buscou na literatura, em pesquisas, nas bancadas de revistas, em livros, receitas que indicassem o caminho; o tempo; as etapas, ou qualquer sopro de esperança que prometesse  finitude  para que aquele sentimento de tamanho incomodo. Pra que passasse, pra que fosse logo. Apesar de todas as dores, seus tons de racionalidade ainda criam em um amor livre, do amor: que se ama e não se explica, do que se ama por desejo, por livre-querer.

Pôs-se em  isolamento, como se fosse uma penitência. Revivia memórias, buscava razoes, explicações para deixar escapar o principal amor capaz de deixa-lo de pé. Mergulhou em aquarelas buscando cores pra amenizar os tons acinzentados de dentro. Cheirou livros, buscou receitas, compôs músicas. Na análise descobriu que o melhor do amor, era o próprio, só esse seria capaz de recoloca-lo ao lugar merecido: o de ser amado.
O que se podia fazer pôs-se a fazer,  mas a dor, essa  permanecia latente. Chorou dias. Algumas noites. Enquanto dirigia. Enquanto vivia. Sentia. Chorou tardes. Tinha a persistente sensação que sua tristeza era desmascarada a todos que cruzavam em instantes seus caminhos (evitou trocar caminhos com os de outrem). Era dor em carne viva. Dor. Por inverdades, incertezas, inseguranças. 
Desistiu da instabilidade, que não era dele.

Dias passaram, um mês, dois meses, três meses. Primeiro, dias contados em horas.  24 horas se passaram. Depois, parecia razoável contar em semanas. Uma semana, duas semanas... e quando se viram eram três meses. O choro persistia em brotar, em horas indevidas, em horas insólidas. Permitiu-se doer um pouco mais. Chorou dias, guardou lembranças, pensou nos próprias acertos. Seguiu nos caminhos solitários construídos com pequenos retalhos de projetos, guardou consigo: “Amanha talvez esse vendaval faça algum sentido”. E seguiu.

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