terça-feira, 15 de junho de 2010

Não aprendi a colher a flor

sem esfacelar as pétalas.
Falta-me o dedo menino
de quem costura desfiladeiros.
Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.


Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.
Careço da habilidade da onda,
hei-de aprender a carícia da brisa.

Trémula, a haste
me pede
o adiar da noite.
Em véspera da dádiva,
a faca me recorda, no gume do beijo,
a aresta do adeus.
Não, não aprenderei
nunca a decepar flores.
Quem sabe, um dia,
eu, em mim, colha um jardim?
Mia Couto
[...]
 
 
 
Junho partido, precisamente, dia 15.
Em mim muito mais perguntas do que respostas. Indignações quase-incabíveis...
Eu digo, é preciso peito pra enfrentar a vida de frente. Coragem pra sair dos abismos que trazem lágrimas molhadas de dúvidas. É preciso erguer a cabeça e seguir, quase sempre, sem saber como, ainda que em passos trôpegos e olhos marejados de desesperança. 
 
Eu descobri queo essencial mesmo, é ter pertinho, gente que te faz bem e que te suga a melhor parte amenizando os pedaços quebradiços.

*[.... Entendi que não tem como dar as mãos quando a gente não confia. Não existe meio termo. Ou confia ou não confia, é simples assim. Mentiras não cabem em mim. Não mesmo].

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Leros Leros