"Das aprendizagens, ou das possibilidades de:
Querer-colocar-o-outro-na-medida-da-expectativa viola os direitos dos
deslimites do ser. E distancia o amor."
[Cecília Braga]
Talvez você me conheça pouco, só um pouquinho, beeem pouquinho mesmo. Não sou muito boa com palavras... Sim, eu escorrego e logo deixo escapar minhas inteiras e transparentes contradições.
[...]
Ei, você sabe que eu me vi, certo dia, completamente encantada por você? Por sua forma de saber se esticar, do "saber se virar", por sua invejável independência, de viver do-jeito-que-dá e o "ter peito forte pra enfrentar a vida de frente". Você com sua vida de folhas espalhadas, roupas amarrotadas e cabelos despenteados. Anda como quem vive-só e nem-aí "pra que o mundo todo pensa". Pés descalços, sapatos velhos e violão sem corda no canto do quarto. Pra completar com "o lá que combina com sua voz melodiosa", você embala suas canções favoritas. "Me acompanha no chopp ou se entope de coca?". Eu rio, sigo e peço coca com gelo pra me entupir "sem limão, por favor". Você me ensina, e no lugar da coca, uma Stela Artois. "Stela o que? Pede pra mim?", eu imploro-num-tom-de-quem-não-sabe. "Artuá", você reponde com sorriso nos olhos. Acho lindo você pronunciar, e rio de novo como alguém que admira suas intermináveis sabichonices.
Percebe? Fui carregada por sua sensibilidade arregalada e por enxergar com leveza a cor que você pinta sua vida. Eu saberia descrever o tunhão de "detalhes" que você tem... desses aí que me tombam o coração desequilibrado e me permitem que pensar em você por horas e horas com um cumprido sorriso no rosto; dos dias de te ver chorando de rir, te interromper com um beijo e sussurrar por entre os lábios que você me derrete, me desmancha e me faz sentir melhor.
[...]
Talvez você tenha surgido num tumulto de caminhos cruzados, eu sei. Tanta coisa misturada, mal resolvida e bagunçada... ex-amores, trabalho, cursos, fugas, medos, mágoas, maldades e outras feiuras escancaradas. O tempo da sua chegada se juntou ao meu, de partidas, mudanças, transições e desastradas confusões.
Foi quando eu me vi completamente-ao-seu-lado na tentativa incansável de dedicar meus carinhos, que agora [finalmente] eram pra você. Eu me estiquei, sabia? Tive olhos fundos por deixar de dormir, e no lugar os incontáveis mimos que eu ganhei de presente: colo, cafés, risos, simplicidades, trechos, músicas esquisitas e pequenos desassossegos. Era bom ter o seu cheiro comigo, seus cuidados, suas manias, suas mãos leves a me afagar o rosto de olhos pintados e chorosos. Era você que eu esperava pra me dizer "não", pra aprender a não ser sempre tão teimosa e mimada. Era bom ser acordada com uma barulhinho de mensagem no celular no meio da noite com trechinhos que só eu entendia...
Eu fico hoje a pensar... Não sei bem como você recebeu o que eu tentei te dar...Como você descreveria?
Eu confesso aqui que tive tanta sede de você.... tanta sede... Queria que tudo fosse rápido e que eu pudesse fazer parte da sua excêntrica e solitária vida preenchendo cada espaço vazio... E nessa interminável ânsia de adentrar os seus contos, de ter uma balada-brega com você, um álbum-com-cara-metade, trechos de diálogos em guardanapos, pequenas rasuras refeitas... Eu só queria mesmo era ser pra você um amor grande, importante, incontornável...
Eu me antecipei, não é? Me esqueci da sua bagagem, das nossas diferenças mais profundas... daquelas tão íntimas, silenciosas e sorrateiras... Escorreguei, desapeguei e me comportei meio demodê diante de um amor tão contemporâneo.
Naquele domingo me dei conta que as coisas seriam diferentes pra nós. [Não foi só uma brincadeira, eu insisto]. Suas palavras ressoaram, e meus olhos foram embora molhados. Eu freiei e não preciso explicar. Como em um dia de mar agitado alguns medos meus vieram devolvidos no fim de tarde chuvoso. Eu não soube o que fazer com isso e ainda não sei... E me perdi sem saber voltar.
Eu carrego em mim amarguras, lembra? Minhas armaduras são sempre tão pesadas... Não arrisco sequer uma palavra por uma [outra] história com final infeliz. Nada mais com excessos de tempo, lembra? Nada mais que me faça doer sem saber como parar. Consegue me ler sem pausas?
Nunca? É tempo demais. Ainda te espero da forma que for. Talvez na tentativa disfarçada de uma segunda chance que não teremos para causar uma boa primeira impressão.
Oi Ruth,
ResponderExcluirEscorregar faz parte do jogo...
Belo texto.
Abç
Gustavo
É Ruthinha...
ResponderExcluirEsse negócio chamado AMOR por vezes perturba a gente né? O duro é que esse tal de amor é essencial na vida da gente, seja ele como for...