quarta-feira, 20 de julho de 2011

"Deitei-me no chão pra pensar. Escolhi esse lugar, porque qualquer coisa vista por este ângulo de abandono, fica um tanto mais equitativa. Chego aqui, com um agro sentimento no peito e nos ombros todo o cansaço de quem de tudo já tentou e depois de uma longa caminhada infrutífera, desaba sobre os próprios pés e já pensa trezentas vezes por dia em desistir. Doze minutos depois, chego a conclusão que tenho dó de ti. Eu sinto um dó imenso, dos que preferem não sentir, dos que se escondem em calabouços, armados com lâminas de talhar sentimentos, dos que criam um casulo pro coração e contentemente dizem ter coração de aço. Bobagem! Coração de aço pode, de certo modo, ser inatingível, mas afunda facilmente nos oceanos de águas geladas e silenciosamente assustadoras. Bom mesmo é ter coração de penas. Coração de penas, se machuca facilmente, se despedaça e se perde com a maior facilidade, mas só quem tem coração de penas, voa e baila com todas as possibilidades, não teme, não tem armas, não tem refúgio, vibra, pulsa, faz das dores aprendizado e não blindagem, e faz da vida uma conjugação, onde a palavra mais usada é permitir-se! Coração de penas, não se acovarda!
Tenho coração de penas, sensível e vulnerável, mas sem medo de sentir e sinto tanto! Sinto muito por esta tua vida anestesiada, por esta imunidade inventada que ao mesmo tempo que te protege, torna árido o teu existir.

Mas, daqui de onde estou, consigo enxergar bem aquele teu olhar quando se dobra macio e guarda pra dentro, certos sentimentos que te fazem corar. Lembro de palavras distraídas que escapolem das tuas mordaças e mostram tua benevolência e pequenas lascas de afeto. Lembro de vezes em que você adota o meu olhar e de outras em que percebi minhas interpretações sobrevoarem tuas teses. Lembro da tua timidez e do teu medo de se expor e vou lembrando e vou descobrindo e vou me apaziguando em relação a ti. Lembro inclusive, que já ouvi as batidas do teu coração e ele bate sufocado e acuado.

Acho que já é hora de levantar. Levanto-me confiante. Peço pro meu coração de penas, deslembrar sobre desistir e já nem consigo mais conjugar esse verbo, porque sei que o meu calor te alcança e sei que muito calor faz derreter o aço".

[Fabi Anselmo]

Um comentário:

  1. Que lindo, Ruth... simplesmente lindo! Vc e suas pérolas... : )

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