segunda-feira, 21 de setembro de 2015

De olhos cansados e contornados pela tristeza que o acompanhava, mesmo numa distância imprópria lia-se o que a alma parecia esbravejar. Seus passos já não ressoavam entusiasmo,seguia lentamente, como quem crê nos descaminhos da vida. Os olhos escutavam o mundo com uma tristeza que contagiava. As pequenices pareciam não ter o sentido de outrora, perdera a delicadeza que encantava nos dias.

 Eu era tomada por uma nostalgia incabível quando olhava pra ele, que agora carregava no corpo, ombros cansados e coração descrente.

 Eu lembrava das explícitas sensações em suas retinas, olhos arregalados e curiosos diante de cada nova sensação. A água fria molhava-lhe os pés nos dias quentes de agosto. Sentia as gotas uma a uma tocar o seu corpo. Era possível sentir a temperatura da água ao olhar suas explícitas expressões. O riso não contido, a voz que verbalizava em tom alegre as etapas de um mergulho nítido, na vida. Era vida. Brilho. Entusiasmo. Descrevia texturas, sensações, tatos. As cores eram iluminadas diante dos seus olhos. Aproximava-se das pessoas como  quem tem a curiosidade de abrir um livro não lido, abria-se, num ato de entrega e reciprocidade. Era intolerante aos excessos, mas também, feito deles. Amava profundamente ou não. Fugia do mediano. Lia nuvens e entardeceres. Abraçava peito a peito, e tinha no peito um coração que pulsava. Suspirava. Sentia com poros. Absorvia a vida, como quem tem morte datada, vivendo o dia. Importava-se, sinceramente. Acolhia, e com uma gentil elasticidade, estendia as mãos firmes.

Eu vi esgotar a pessoa que ali existia. Aos poucos, aos pouquinhos.  Mal pude reconhecê-lo, e tive os olhos marejados e a esperança escapuliu das minhas mãos. Porque a mim, pareceu-me que ele estava com  o corpo agasalhado por neve, num sentir distante, solitário, acinzentado, formado por nós, sem laços. E parecia ouvir o silêncio de dentro, isoladamente. Adormeceu pro que era de fora.

Eu (quase) desisti de acreditar, porque preferi crê que um dia ele volta pra aquecer esse mundo tão esquecido, e (não farto) de gente alegre.

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Leros Leros