Não era dia costumeiro como tantos. O clima parecia-lhe
favorável, depois de estações que passaram desapercebidas, diante do opaco
interno. A angústia cobria-lhe os olhos, e fazia parecer, cada dia, composto
por intermináveis instantes-de dor. Buscou na literatura, em pesquisas, nas
bancadas de revistas, em livros, receitas que indicassem o caminho; o tempo; as
etapas, ou qualquer sopro de esperança que prometesse finitude para que aquele sentimento de tamanho incomodo.
Pra que passasse, pra que fosse logo. Apesar de todas as dores, seus tons de
racionalidade ainda criam em um amor livre, do amor: que se ama e não se
explica, do que se ama por desejo, por livre-querer.
Pôs-se em isolamento,
como se fosse uma penitência. Revivia memórias, buscava razoes, explicações
para deixar escapar o principal amor capaz de deixa-lo de pé. Mergulhou em
aquarelas buscando cores pra amenizar os tons acinzentados de dentro. Cheirou livros,
buscou receitas, compôs músicas. Na análise descobriu que o melhor do amor, era
o próprio, só esse seria capaz de recoloca-lo ao lugar merecido: o de ser
amado.
O que se podia fazer pôs-se a fazer, mas a dor, essa permanecia latente. Chorou dias. Algumas
noites. Enquanto dirigia. Enquanto vivia. Sentia. Chorou tardes. Tinha a
persistente sensação que sua tristeza era desmascarada a todos que cruzavam em
instantes seus caminhos (evitou trocar caminhos com os de outrem). Era dor em
carne viva. Dor. Por inverdades, incertezas, inseguranças.
Desistiu da instabilidade, que não era dele.
Dias passaram, um mês, dois meses, três meses. Primeiro,
dias contados em horas. 24 horas se
passaram. Depois, parecia razoável contar em semanas. Uma semana, duas
semanas... e quando se viram eram três meses. O choro persistia em brotar, em
horas indevidas, em horas insólidas. Permitiu-se doer um pouco mais. Chorou
dias, guardou lembranças, pensou nos próprias acertos. Seguiu nos caminhos
solitários construídos com pequenos retalhos de projetos, guardou consigo: “Amanha
talvez esse vendaval faça algum sentido”. E seguiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Leros Leros