quinta-feira, 14 de julho de 2016

Amor, comportamento

 Desde que você chegou, insinuando que sua língua era a mesma que a minha, cavuquei em palavras que pudessem encurtar nossos tempos, que pudessem nos trazer pra "mesma página". Fiz uma lista das favoritas (algumas tornaram-se preferidas quando pronunciadas pela sua boca, que em tons delicados ou quentes emergiam num contorno e sonoridades  jamais escutados).

Não foram só palavras, admiti com certa rispidez. Não me contive em dizer que a composição dos seus mínimos detalhes desconstruíram em mim  amarras de antigos amores.

A forma que seus cabelos se mexiam enquanto pronunciava (minunciosamente) suas muitas histórias do Sullivans ou das noites tumultuadas quando a solidão assustava, ou ainda, descrevendo o sentir daquele primeiro encontro desajeitado quando meu coração, ainda tão otimista, não era seu. Minha memória não me trai, suas palavras, te trouxeram pra mim, pra perto, pro terno.

Os goles de cerveja alternados a forma que sua mão gira ao pegar o copo ("pra não derramar", você, apressadamente, justifica), ou como, performativamente, cantarola as músicas sem emitir sons,  ou enumera as incertas tipologias dos meus ex-amores, esperando que eu diga, que dentre todos, você é o mais exótico amor- o umâmico. Todos esses atos misturados por uma curiosidade genuína, envolto do viver profundo, na sagacidade da palavra, no sentir tropeçado, na inconstância insólita, no toque envolto no enternecer do movimento, na bagunça legitimada, na tenacidade do desejo, no primeiro beijo planejado por vieses dos flerts não racionalizados (inconscientes?), do sexo erótico (mergulhado em  palavras insolentes)...

Pode sim até ser um amor não exclusivo, de abertos contratos, de encontros intermitentes- mas carrega em si toda idiossincrasia da palavra amor. Amor sólido, quente, sagaz, imaturo, impetuoso, desejante. Amor melífluo. Ufano. Rebuscado em si. Também de veneta (tal como aqueles que morrem mais cedo, alguns amores são assim pronunciados- e permitidos). Amor prolixo, poemário, amor de penumbra (ou claridade), amor feito de minudências. Amor de inquietudes, mergulhos, intertextualidades e insane. Amor esse, que por eloquência das suas palavras treinadas, embateram de frente com a minha austera racionalidade.

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