terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Das relações ressignificadas sobra o amor que um dia foi. O amor de outrora, era aquele alegre, cúmplice. Amor explícito, dedicado, presente, solitário, empático. Entendo que dos grandes amores que eu tive, um deles foi você. Não sabia dizer que essas ressignificações transformariam aquilo que, de um dia tão íntimo, se transformasse num retrato-empoeirado-guardados-no-canto.

Eu não sou muito de aberturas, apesar de ter no padrão de leitura explicito como aquela que tem braços abertos pra vida, pras pessoas... Eu tenho consciência das minhas faltas, do meu afastamento, da minha tristeza cinzenta, nos mergulhos na minha própria solidão... entendo que de alguma forma, em algum tempo, eu tenha frustrado suas expectativas como amiga, mas também sei (sim, eu sei) que eu tentei ser o melhor que pude, na destreza e leveza de poder ser o que eu sentia que poderia ser, como alguém que, como pouquíssimas pessoas tiveram acesso ao que eu era, na intimidade mais profunda que pudesse haver.

Era pra ser uma mensagem do tipo: feliz aniversário. Passei dias pensando em alguma forma de te dizer através do meu comportamento-tão-pouco-polido, de dizer que eu lamento pela forma que se deu nosso afastamento, em um momento, que tão pouco eu me percebia. Talvez essas palavras não façam o menor sentido pra você hoje (pra mim ainda ressoam como uma tentativa de compreender uma quebra sem muita explicação. Sei, que essa é uma perspectiva de quem esteve adormecida e que um dia acordou sem o amor por perto).

Hoje, egoisticamente, ao invés de dizer: "Beta, você é...", eu digo apenas, com a parte mais bonita do meu coração (que sim, persiste), que eu sou grata por ter tido o melhor de você e que você é parte importante do que eu sou e que esses laços, por mais que haja silencio e ausências, colorem a minha coleção de amores. Não te quero na minha coleção de "nao entendi", porque te guardo na minha coleção de preciosidades, aprendizados, trocas; numa certeza íntima que apesar das distâncias, eu sempre estive aqui e sempre te entregando o meu melhor (ainda que fosse miudinho).

Eu torço pra que sua vida prossiga delineada pelas cores mais vívidas, com fluidez, amores, encontros, amigxs, sonhos e esperança.

Sim: um ano novo cheio de boas coisas; uma nova idade que te traga sopros de alegrias e um abraço de quem guarda por você um amor contínuo (que permanece richunchudo, desajeitado e carinhoso).

Ruth

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Olha pra mim e diga que um dia eu vou acabar me acostumando com a vida- que nada mais é que um amontoado de imprevisto, curvas inesperadas, feita de gente inacabada.


Amor é sobre poder ser quem se é (sem esforço), sem pedidos de desculpas por não ser aquilo que o outro deseja que sejamos. Tenho aprendido.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Amor, comportamento

 Desde que você chegou, insinuando que sua língua era a mesma que a minha, cavuquei em palavras que pudessem encurtar nossos tempos, que pudessem nos trazer pra "mesma página". Fiz uma lista das favoritas (algumas tornaram-se preferidas quando pronunciadas pela sua boca, que em tons delicados ou quentes emergiam num contorno e sonoridades  jamais escutados).

Não foram só palavras, admiti com certa rispidez. Não me contive em dizer que a composição dos seus mínimos detalhes desconstruíram em mim  amarras de antigos amores.

A forma que seus cabelos se mexiam enquanto pronunciava (minunciosamente) suas muitas histórias do Sullivans ou das noites tumultuadas quando a solidão assustava, ou ainda, descrevendo o sentir daquele primeiro encontro desajeitado quando meu coração, ainda tão otimista, não era seu. Minha memória não me trai, suas palavras, te trouxeram pra mim, pra perto, pro terno.

Os goles de cerveja alternados a forma que sua mão gira ao pegar o copo ("pra não derramar", você, apressadamente, justifica), ou como, performativamente, cantarola as músicas sem emitir sons,  ou enumera as incertas tipologias dos meus ex-amores, esperando que eu diga, que dentre todos, você é o mais exótico amor- o umâmico. Todos esses atos misturados por uma curiosidade genuína, envolto do viver profundo, na sagacidade da palavra, no sentir tropeçado, na inconstância insólita, no toque envolto no enternecer do movimento, na bagunça legitimada, na tenacidade do desejo, no primeiro beijo planejado por vieses dos flerts não racionalizados (inconscientes?), do sexo erótico (mergulhado em  palavras insolentes)...

Pode sim até ser um amor não exclusivo, de abertos contratos, de encontros intermitentes- mas carrega em si toda idiossincrasia da palavra amor. Amor sólido, quente, sagaz, imaturo, impetuoso, desejante. Amor melífluo. Ufano. Rebuscado em si. Também de veneta (tal como aqueles que morrem mais cedo, alguns amores são assim pronunciados- e permitidos). Amor prolixo, poemário, amor de penumbra (ou claridade), amor feito de minudências. Amor de inquietudes, mergulhos, intertextualidades e insane. Amor esse, que por eloquência das suas palavras treinadas, embateram de frente com a minha austera racionalidade.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Do hoje.

"O ímpeto de crescer e viver intensamente,
foi tão forte em mim, que não consegui resistir a ele.
Enfrentei meus sentimentos.
A vida não é racional!
É louca e cheia de mágoa.
Mas não quero viver comigo mesma.
Quero paixão, prazer, barulho, bebedeira, e todo o mal.
Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar em corpos,
beber um Benedictine ardente.
Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas.
Quero morder a vida, e ser despedaçada por ela.
Eu estava esperando.
Esta é a hora da expansão, do viver verdadeiro.
Todo o resto foi uma preparação.
A verdade é que sou inconstante,
com estímulos sensuais em muitas direcções.
Fiquei docemente adormecida por alguns séculos,
e entrei em erupção sem avisar."

Anais Nin

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Vendaval

Não era dia costumeiro como tantos. O clima parecia-lhe favorável, depois de estações que passaram desapercebidas, diante do opaco interno. A angústia cobria-lhe os olhos, e fazia parecer, cada dia, composto por intermináveis instantes-de dor. Buscou na literatura, em pesquisas, nas bancadas de revistas, em livros, receitas que indicassem o caminho; o tempo; as etapas, ou qualquer sopro de esperança que prometesse  finitude  para que aquele sentimento de tamanho incomodo. Pra que passasse, pra que fosse logo. Apesar de todas as dores, seus tons de racionalidade ainda criam em um amor livre, do amor: que se ama e não se explica, do que se ama por desejo, por livre-querer.

Pôs-se em  isolamento, como se fosse uma penitência. Revivia memórias, buscava razoes, explicações para deixar escapar o principal amor capaz de deixa-lo de pé. Mergulhou em aquarelas buscando cores pra amenizar os tons acinzentados de dentro. Cheirou livros, buscou receitas, compôs músicas. Na análise descobriu que o melhor do amor, era o próprio, só esse seria capaz de recoloca-lo ao lugar merecido: o de ser amado.
O que se podia fazer pôs-se a fazer,  mas a dor, essa  permanecia latente. Chorou dias. Algumas noites. Enquanto dirigia. Enquanto vivia. Sentia. Chorou tardes. Tinha a persistente sensação que sua tristeza era desmascarada a todos que cruzavam em instantes seus caminhos (evitou trocar caminhos com os de outrem). Era dor em carne viva. Dor. Por inverdades, incertezas, inseguranças. 
Desistiu da instabilidade, que não era dele.

Dias passaram, um mês, dois meses, três meses. Primeiro, dias contados em horas.  24 horas se passaram. Depois, parecia razoável contar em semanas. Uma semana, duas semanas... e quando se viram eram três meses. O choro persistia em brotar, em horas indevidas, em horas insólidas. Permitiu-se doer um pouco mais. Chorou dias, guardou lembranças, pensou nos próprias acertos. Seguiu nos caminhos solitários construídos com pequenos retalhos de projetos, guardou consigo: “Amanha talvez esse vendaval faça algum sentido”. E seguiu.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um Instante e Já Passou, Momento é Sopro.